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Archive for agosto \09\America/Sao_Paulo 2012

por Gabriella Pieroni;fotos de Fernando Angeoletto e Mariana Rotili

Tradição, dizer através do tempo

Este fim de semana o engenho da Costa da Lagoa girou! Movido pela comunidade e visitantes  que compareceram para criarem juntos o ritual da Farinhada, trabalho familiar que se transforma em expressão cultural.

Roça de mandioca não há mais,pois as leis ambientais não permitem o tradicional plantio, a protagonista da festa  já não desce o morro em carros de boi mas chega pela lagoa nas embarcações dos barqueiros.Boi  só o de mamão e de papelão, mas pra girar a cangalha não falta gente, remontando a  tração humana, principal brincadeira da festança. O silêncio do trabalho agora  é rompido pela euforia da festa,que a cada ano está ficando mais animada.

A maior festa da história do engenho

Depois de uma semana de mutirões de limpeza do espaço e organização da festa, o engenho começou a rodar  na sexta-feira a tarde com as etapas de raspagem do capote (casca fina da mandioca), seva (onde a raíz é ralada) e prensa no tipiti (desidratação). No domingo, dia mais movimentado da festa, foi feita a peneiração e o forneio da farinha, etapa mais trabalhosa e também mais bonita do processo. Este ano o engenho recebeu seu maior público da história,mais de 200 pessoas que se revezavam entre a cangalha (peça que gira a roda que era tocado pelo boi) as rodas de conversa e  atrações culturais.  O boi-de-mamão da escola local ampliou o clima de brincadeira com seus cantos, batuques e adereços. A performance grupo encontrou seu lugar ideal  na fachada do engenho que servia como cenário para a narrativa do folguedo.

Uma feijoada ilhéu (com carnes e verduras) foi servida no almoço para a   apreciação       do pirão de feijão com farinha recém saída do forno. Um grupo de 10 chefs de cozinha    do Convivium Mata Atlãntica, que vieram desde Blumenau especialmente para a Farinhada,  acompanhava atentamente a fabricação da farinha.  Barraquinhas com comes e bebes foram montadas pela família festeira e moradores dos arredores. O artista plástico e morador da vila, Paulo Burani, fez uma exposição de suas pinturas que retratam a cultura náutica na paisagem da Costa da Lagoa. Fotografias de Giliard Orionita também podiam  ser vistas nas paredes do engenho. Quando a noite chegou, o  grupo Norte e Sul composto por Dú de Canário e Paulinho da Vassoura, um gaúcho e outro potiguar, convidou o público para dançar ritmos brasileiros e composições próprias. Os músicos e moradores da Vila Verde  são os tradicionais cantadores da Farinhada e desta vez, levantaram poeira do chão batido entre uma fornada e outra de farinha.

O Ponto de Cultura fez a entrega das louças produzidas especialmente pelo ceramista Renato Trivella para o engenho, o ceramista apresentou as peças que foram imediatamente utilizadas na festa.

Todas as etapas do fim de semana foram feitas coletivamente pelos moradores da Vila Verde (ponto 8 da barca) e coordenadas pela família Ramos, antiga proprietária deste engenho, que ainda detém os saberes tradicionais do feitio: técnicas e sensibilidades que tornam possível a fabricação da farinha atualmente. A família também é a atual gestora da festa,assumindo a função nos últimos 4 anos.

 

 

 

A Farinhada da Costa da lagoa é umas das festas tradicionais da ilha que mais integra pessoas não nascidas na cidade. Estas pessoas se tornam não apenas  consumidoras, mas também produtoras da festa, reforçando a identificação com o espaço e evitando conflitos identitários. Desta maneira,todos têm a oportunidade de contribuir com a celebração cultural do alimento,que tem uma  motivação universal. O fenômeno, ao contrário do que se diz por aí,em vez de descaracterizar, deu vida à tradição na Costa da Lagoa e a todo o arcabouço  histórico nela contida, além da bonita função de unir as pessoas.

 

 

O Engenho da Vila Verde : espaço cultural de autogestão

O  feitio artesanal da farinha  ganhou novos significados na Costa da Lagoa  nos últimos anos 15 anos, desde a revitalização deste engenho que é único remanescente em funcionamento na bacia da lagoa. Com a gradual recuperação do terreno e edificação promovida pela Associação Engenho foi possível iniciar uma ocupação diferente do espaço que se transformou num centro cultural. Desde então o engenho da Vila Verde  acolhe iniciativas culturais, projetos e a Festa da Farinha, que ocorre todo ano no mês de agosto. O espaço já passou por diversas gestões, de 2004 a 2009 foi sede do Projeto de extensão da UDESC – Rodando o Engenho-Rodas de História na Costa da Lagoa, em 2008 se transformou em “set” de cinema onde foi rodado parte do filme “A Antropóloga” e atualmente é um dos engenhos da rede do PONTO DE CULTURA ENGENHOS DE FARINHA, apoio cultural na edição deste ano da Farinhada.

Apesar destas ações e de fazer parte da paisagem cultural do “Caminho da Costa da Lagoa”  tombado pelo IPUF , a sobrevivência deste engenho ainda se encontra ameaçada, pois as políticas públicas são frágeis e passageiras. A manutenção da edificação é constante e despesas com contas e impostos também. A Associação Engenho se encontra atualmente inativa por falta de recursos humanos e materiais. Mas mesmo assim a festa continua, fruto da autogestão da comunidade e grande apoio de artistas, pesquisadores ou apenas apaixonados pela história do local.

 

 

O Ponto de Cultura está iniciando uma campanha ( junto com a Rede dos Engenhos Artesanais de Farinha da grande Florianópolis e entidades parceiras ) que busca construir um inventário para o reconhecimento do ritual e sistema agrícola da Farinhada ( Farinha Polvilhada) como Patrimônio Nacional Imaterial. Tal reconhecimento tem precedentes recentes com os engenhos do Pará e são ações ainda incipientes do IPHAN no país para a salvaguarda das diversidades culturais regionais e agrobiodiversidade.

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O Engenho das Três Irmãs,localizado na comunidade de Três Barras na Palhoça, recebeu no último dia 19/07, a EXPEDIÇÃO MATA ATLÂNTICA para um café com iguarias típicas de engenho e uma apresentação do feitio artesanal da Bijajica. O evento  foi promovido por chefs de cozinha do Convivium Mata  Atlãntica (SLOW FOOD) com foco na elaboração de um turismo gastronômico de reconhecimento das matérias-primas catarinenses.  A expedição trouxe gastrônomos  e estudantes de gastromomia de várias partes do país para conhecer as paisagens culturais do estado em busca de suas riquezas culinárias e dos saberes ligados a elas.Também estavam presentes dois ecochefs de uma cooperativa holandesa (SLOW FOOD) à qual os chefs catarinenses trocam experiências e pretendem se espelhar.

A Farinha Polvilhada de Santa Catarina esteve no roteiro e no menu  da expedição que também contou com equipes de jornalistas de blogs e revistas de gastronomia do país e alguns pesquisadores. Inácia, Vilma e Maura, com sua grande hospitalidade, estrearam as louças de cerâmica fornecidas pelo Ponto de Cultura que embelezaram ainda mais a mesa de degustação da noite, muito apreciada pelos expedicionários.

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